Após um longo
tempo, percebendo que a maré e a correnteza são realmente muito fortes, decidi
tomar uma decisão drástica, deixar a
correnteza e a maré me expulsarem para bem longe, possivelmente para o alto
mar, e dali poder seguir meu rumo, meu destino. De preferência que o mar, esse
sim, pudesse me proporcionar a satisfação de parar em uma praia bem distante,
de onde a correnteza e a maré, não me queriam.
Tentei de
todas as formas voltar a embarcar e navegar junto com a maré e a correnteza,
mas por culpa de um dos pescadores que navegava tranquilo e ociosamente em seu
barco, naufraguei. Estranhamente, esse mesmo pescador, posteriormente, de
braços cruzados, me dizia apenas que lutasse contra a maré e a correnteza, mas
não fazia nada que justificasse o seu próprio erro.
Nas
proximidades dele havia outro pescador, que navegava em círculos com o intuito
de acompanhar a maré e a correnteza. Este pelo menos disse que tentaria
resolver o meu problema, mas não o fez. Enrolou, demorou, enrolou mais um
pouco, e então percebi, que este também não resolveria meu problema.
Por isso,
resolvi abandonar a luta contra a maré e a correnteza.
As vezes é
melhor entregar os pontos e dar a correnteza e a maré a sensação de vitória, do
que tentar dar murro em ponta de faca. Melhor sair vivo, e ir parar em outras
plagas, outras praias e recomeçar a vida. Longe de quem não te quer, e de quem
usa o revanchismo e o preconceito contra quem trabalhou e deu sangue para que a
maré pudesse correr livremente...
Curioso nesta
história é que a maré desconhece o nadador, ou só o conheço por uma pequena
fração de tempo. O suficiente para criar um preconceito irracional, contra quem
possui história de vida ligada à terra. A maré que caiu de pára-quedas no
lugar, ainda usa o revanchismo para tirar da reta todos aqueles que trabalharam
para que a correnteza pudesse seguir seu rumo em sossego.
Daí que as
palavras de Madre Teresa de Calcutá, parecem cair como uma luva nessa história.
Certa vez ela disse que “os líderes estão cercados de falsos amigos, e longe
dos inimigos verdadeiros”. O que não deixa de ser uma grande verdade. Basta
apenas olhar para os lados.
Finalmente,
posso concluir essa história, lembrando-me das palavras de um empresário
conhecido, que definiu meu pai como um “radialista de grande visão”. Acho que
também padeço do mesmo mal, por não ser puxa-saco de ninguém, e por ter aversão
a ufanismos e puxa-saquismos. Sou o tipo de pessoa, que prefere dizer a
verdade, doa a quem doer. Mesmo que saia prejudicado.
Aliás, já ouvi
também de um diretor de uma grande empresa do Rio de Janeiro, a mesma premissa,
de que apesar dos problemas, vale à pena contar a verdade, do que tentar iludir
ou contar uma mentira com o intuito de ludibriar alguém, até porque a mentira
tem pernas curtas. Contar à verdade sobre um problema, dói, mas pelo menos quem
sofre, é justamente alguém que conseguirá uma segunda chance para redimir-se de
um erro.
Infelizmente a
correnteza, está cheia de marés ao seu lado que não aceitam contar a verdade.
Preferem iludir a correnteza com mentiras e falsidades. Como se isso pudesse
resolver os problemas alheios. Mas que na verdade, apenas corroem qualquer
imagem que a correnteza havia construído.
A maré age de
forma ditatorial, e lembrando dos algozes da ditadura militar, não aceitam que
a vítima tenha um defensor, e que este possa se manifestar. A sua palavra, de
algoz é a última e ponto final.
Daí que
prefiro me abster de lutar contra a maré e a correnteza, e deixar os dois
pescadores absortos em seus erros, para nadar pelo rio, atravessar o mar, e
parar em outra aldeia....
P.S. – Este texto possui uma mensagem subliminar, apenas
para aqueles que me conhecem profundamente e estão cientes do meu
sofrimento....
Paulo de A. Ourives....