segunda-feira, 14 de março de 2011

Bagaço da cana tem novo destino


Anualmente são produzidos, no Brasil,
cerca de 132 milhões de toneladas de bagaço de cana


Cláudio Leal se preocupa com o destino
sustentável do bagaço

Além de servir como alimento para o gado bovino principalmente no período de seca e como rica fonte de energia elétrica, o bagaço da cana-de-açúcar pode ser usado como aditivo estabilizante para a mistura asfáltica, evitando que o cimento escorra durante as etapas de mistura ou de aplicação, tendo como principal vantagem em relação às outras fibras é o custo significativamente inferior.
Na região, a mistura foi usada no último mês de fevereiro, através de uma parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit), que aceitou construir o trecho experimental na pavimentação da Rodovia BR-356, na chegada ao município de São João da Barra. Segundo o pesquisador e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF), Cláudio Leal, a mistura obteve sucesso em testes de laboratório, por isso o uso em um trecho de 50 metros da via federal, que será monitorada nos próximos seis meses.
A preocupação em encontrar um destino sustentável para o bagaço da cana-de-açúcar descartado pelas usinas levou o professor Cláudio a desenvolver o tipo de asfalto que contém o material em sua composição. Ele observou as composições das misturas asfálticas como a SMA e percebeu que era possível substituir as fibras de celulose ou de vidro utilizadas na mistura pelo bagaço. Com isso, além de evitar o desperdício, agora é possível baratear a produção do asfalto do tipo do SMA. “O bagaço é totalmente mais barato, já que estas precisam de um processo industrial para sua produção”, disse o pesquisador.Entre as vantagens do asfalto SMA em relação ao convencional estão maior resistência ao desgaste, diminuição do efeito de aquaplanagem e aumento da aderência do pneu à superfície do pavimento.
Até agora, foram investidos pouco mais de R$ 86 mil, vindos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), aplicados principalmente na aquisição de equipamentos de monitoramento do trecho experimental.
De acordo com o pesquisador, a produção de açúcar e álcool gera cerca de 270 quilos de bagaço por tonelada de cana-deaçúcar moída. Estima-se que a safra brasileira produza aproximadamente 132 milhões de toneladas de bagaço por ano e o aproveitamento deste rejeito industrial é simples.  “O bagaço precisa apenas ser seco e peneirado. Embora a maior parte seja queimada nas caldeiras das próprias usinas para geração de energia térmica ou elétrica, cerca de 20% são rejeitados no meio ambiente. É diferente da produção da celulose, que envolve a polpação da madeira, um processo químico complexo e que gera alguns efluentes”, distingue Leal.
Proposta é substituir a fibra de celulose
Nos cálculos do pesquisador, que tem o assunto como tema de sua tese de doutorado, considerando-se que a produção de uma tonelada da chamada Stone Matrix Asfalt (SMA) absorve cerca de três quilos de aditivo, o gasto com a fibra de celulose é de aproximadamente R$ 12 por tonelada de asfalto. Sua substituição, portanto, representaria uma redução de custos significativa para os governos, além do fato de que a vida útil do asfalto SMA é quase 50% maior do que a de misturas comuns.
Por ser um produto em abundância na região, com a proposta de substituir a fibra de celulose feita na Alemanha e importada pelo Brasil, a experiência pode fazer com que o país economize em importações e utilize o material antes descartado pelas indústrias sucroalcooleiras para benfeitorias como pavimentação de ruas e estradas no Brasil, diminuindo os custos com a manutenção do asfalto.
Nos Estados Unidos, Canadá e países da Europa, a mistura já é bastante utilizada em rodovias por conta da alta resistência, principalmente ao fluxo de veículos pesados, que normalmente causam danos à pista.
Entre principais componentes das fibras do bagaço da cana está a celulose, com uma porcentagem de 40%
O bagaço da cana-de-açúcar é o maior resíduo da agroindústria brasileira. Estima-se que, a cada ano, sobrem de 5 a 12 milhões de toneladas deste material, que corresponde a aproximadamente 30% da cana moída.
As próprias usinas utilizam de 60% a 90% deste bagaço como fonte energética (substitui o óleo combustível no processo de aquecimento das caldeiras) e para a geração de energia elétrica. O bagaço como combustível veio substituir a lenha, que era a fonte energética usada há alguns anos na evaporação do caldo. Existem potencialmente usos não energéticos para o bagaço da cana, alguns deles já viabilizados comercialmente. Merecem destaque seu emprego como matéria-prima na indústria de papel e papelão, na fabricação de aglomerados, na indústria química, como material alternativo na construção civil, como ração animal e na produção de biomassa microbiana. Mesmo assim há ainda um excedente deste resíduo que não é utilizado, causando sérios problemas de estocagem e poluição ambiental. Alguns autores afirmam que esse excedente de bagaço pode chegar a 10% em usinas com destilaria anexa ou a 30% em destilarias autônomas. As fibras do bagaço da cana contêm, como principais componentes, cerca de 40% de celulose, 35% de hemicelulose e 15% de lignina, sendo este último responsável pelo seu poder calórico.