quinta-feira, 7 de abril de 2011

Até o fim do século, Rio enfrentará mais fortes temporais

Os fortes temporais que provocaram catástrofes no Rio de Janeiro nos dois últimos verões devem se tornar cada vez mais intensos e frequentes até o fim do século. O prognóstico faz parte do estudo ‘Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana do Rio de Janeiro’, que será apresentado hoje no Palácio da Cidade. Além do aumento das chuvas, a pesquisa aponta que a capital e municípios vizinhos devem se preparar para outras alterações significativas no clima e na paisagem como aumento da temperatura em quase cinco graus e elevação do nível do mar.
Embora trabalhe com projeções para até 2099, o relatório destaca áreas críticas onde consequências das mudanças climáticas poderão ser sentidas em 20 anos. Caso da Baixada de Jacarepaguá, litoral de São Gonçalo e Guapimirim. Esses locais devem sofrer com a elevação do nível do mar, que dever ser de meio metro até 1,5 metro.
“Essas regiões merecem atenção especial, com monitoramento permanente e obras de engenharia. O patrimônio público e privado estará garantido mas vai exigir tecnologia, sistemas de dragagem. Técnicas conhecidas, mas que exigem custos e têm que ser planejadas”, explica um dos coordenadores do estudo, Sérgio Besserman, presidente da Câmara de Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura do Rio.
Outro desafio da região será a adaptação às temperaturas mais altas. A maior máxima passará dos 33 graus para até 38 ao longo dos próximos 89 anos. O índice de chuvas se elevará, tornando o clima ao mesmo tempo mais quente e úmido.
MENOS DIAS FRIOS
Também haverá redução no número de dias frios. Hoje 167 dias por ano têm a temperatura mínima acima dos 20 graus, mas até 2099 serão 311 dias, o que significa que haverá apenas 54 dias de temperaturas abaixo dos 20 graus. “Isso vai exigir atenção aos extremos de calor. O aumento das mínimas traz impactos significativos: por exemplo, aumenta a quantidade de dias do ano com temperatura adequada à proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Um problema concentrado no verão poderá se estender por primavera e outono”, destaca Besserman.
Ele acredita em medidas preventivas para amenizar os impactos das inevitáveis: “Não é possível evitar o aquecimento global. Mas é possível evitar os piores cenários. Existem impactos, mas todos viáveis de serem enfrentados com planejamento. O estudo é o primeiro passo para iniciar um trabalho a longo prazo”.
Mudanças à vista em cartões-postais cariocas
Desenvolvida por 29 pesquisadores da UFRJ, Uerj, Fiocruz e Prefeitura do Rio, a pesquisa indica que alguns cartões-postais do Rio conhecidos mundialmente devem sofrer com os impactos das mudanças do clima. As praias do Leblon, Ipanema e Arpoador devem ter a faixa de areia reduzida. O mesmo efeito deve atingir trechos da orla da Região Oceânica de Niterói. As ressacas devem se tornar mais severas, atingindo calçadões e até prédios da orla. O estudo sugere o engrossamento das praias com a colocação de areia.
Trechos que conservam espécies da Mata Atlântica devem sofrer redução de 25% a 50%. Na Baixada Litorânea, região onde estão municípios como Maricá e Silva Jardim, a tendência é que florestas se transformem em ‘savanas’, com redução do porte e da densidade das plantas.
Os impactos também devem atingir espécies de peixes da Baía de Guanabara e símios que habitam a Serra dos Órgãos.