Deputados questionaram resultado de pesquisa que mostra alto índice de satisfação dos usuários dos planos. |
Em debate
realizado na Câmara sobre a qualidade do atendimento dos planos de saúde, o
representante da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Cid Carvalho, afirmou
que a postura atual das empresas de saúde suplementar prejudica os usuários.
Segundo ressaltou, os planos dificultam ou impedem a realização de exames e
outros procedimentos importantes.
“O contrato
exige que se tenha uma pré-autorização. Então, o pedido tramita em várias
instâncias da operadora e, tempos depois, vem a resposta: ‘infelizmente, não
cobrimos o que foi solicitado’”, protestou. A crítica foi feita na terça-feira,
durante audiência pública da Comissão de Defesa do Consumidor.
Por outro
lado, o representante da Federação Nacional da Saúde (FenaSaúde), José Cechin,
afirmou que não há má-fé quando os planos interferem nos pedidos solicitados
pelos médicos. “Às vezes, questionamos os especialistas se não seria melhor
fazer um tipo de procedimento em detrimento de outro. Nosso objetivo é somente
buscar administrar melhor os recursos, que estão lá para servir de subsídio
para todos os usuários', defendeu.
Cechin ainda
argumentou que, segundo recente pesquisa realizada pelo DataFolha/IESS, 80% dos
beneficiários avaliam positivamente os serviços prestados pelas operadoras.
Plano de saúde foi o segundo sonho de consumo apontado pela pesquisa, logo
atrás da casa própria.
Sem
qualidade
O deputado
Dimas Ramalho (PPS-SP), por sua vez, sustentou que os planos prestam ao usuário
um serviço sem qualidade. “Não acredito que 80% dos associados estejam
satisfeitos com os planos, conforme afirmou o representante da FenaSaúde. Na
hora de fazer uma consulta é que surgem os problemas, pois leva-se muito tempo
para conseguir atendimento. Precisamos melhorar isso”, declarou.
Na avaliação
do deputado Gean Loureiro (PMDB-SC), os planos de saúde não são um sonho de
consumo, mas apenas uma alternativa melhor que a saúde pública. “Não acredito
que os consumidores considerem ideal a qualidade do serviço prestado”, afirmou.
Loureiro ainda cobrou da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) uma maior
divulgação dos canais de interação entre a agência e a população, que não sabe
para quem reclamar ou com quem tirar dúvidas.
Reajustes e
fiscalização
O reajuste
das mensalidades dos planos foi um dos temas controversos no debate na Câmara.
Segundo o representante da ANS, Eduardo Marcelo, não é possível reajustar as
mensalidades com base na inflação. “Os aumentos de preço do complexo industrial
da saúde estão sempre acima da inflação. É assim em todo o mundo”, afirmou.
Entre 2000 e
2010, o mercado de saúde suplementar saltou de 33,5 milhões para 60,1 milhões
de usuários. Junto com o número de conveniados, as reclamações também
cresceram. Em 2009, destacou Eduardo Marcelo, 120.487 reclamações foram registradas
na ANS. Em 2010, este número subiu para 187.599. E este ano, só de janeiro a
julho, já foram 102.347 reclamações.
Eduardo
Marcelo destacou que a ANS, por meio dos seus 12 núcleos regionais, faz o
possível para fiscalizar e punir os abusos cometidos pelos planos de saúde.
Porém, ele admitiu que a burocracia diminui a eficiência. “O sistema de
aplicação de penalidades via multas fica prejudicado pela morosidade do
processo, que garante ampla defesa. Como há várias esferas de contestação, as
empresas se beneficiam disso”, admitiu.
Honorários
médicos
No debate,
Cid Carvalho, da Federação Nacional dos Médicos, também criticou os baixos
valores repassados aos médicos pelos planos. “A média de consulta é de R$35. As
operadoras não têm nenhuma responsabilidade com o custo operacional da
consulta, que gira em torno de R$20, incluindo todas as despesas do consultório
médico. Muitos médicos estão pagando para trabalhar”, afirmou.
Eduardo
Marcelo, porém, informou que não existe previsão expressa na lei que permita à
ANS controlar os preços pagos aos prestadores de serviços. “Não podemos
arbitrar valores de honorários médicos, estipular periodicidade de reajuste,
metodologia ou formas de remuneração do profissional”, disse. A FenaSaúde alega
que tem buscado aprimorar o relacionamento com os profissionais da área médica.
Fonte:
Câmara dos Deputados